segunda-feira, 17 de julho de 2017

Em tese

Em tese.
Em que pese a nossa vontade, ela será sucumbida.
Em que pese a nossa incerteza, ela será escrita.
Em que pese a nossa necessidade, ela não será lida.
Em que pese o nosso cuidado, ela será criticada.
Em que pese os nossos amores, ela será corrompida.
Em que pese a nossa coragem, ela será esquecida.
Que peso, em tese, não é leve.

quinta-feira, 9 de março de 2017

Objeto científico?

Quando entramos na academia, somos, imediatamente, treinados para olhar para o mundo por meio da lente científica.
A realidade, passa então a ser questionada, e, evidências e fatos, antes simples questões do cotidiano e da nossa percepção, passam a fazer parte de um complexo conjunto do que viemos a chamar de hipóteses.
Depois de um tempo, quando supostamente temos convicção de que aprender a "fazer ciência", ingressamos em uma jornada, bastante controvertida e agoniante, com a tarefa de desenvolver uma tese.
A tese é o ápice da ciência.
Logo, o objeto da tese, passa a ser, o que o candidato a doutor tem de mais precioso e sufocante.
Assim, a sua tarefa permanece a mesma do cientista calouro: olhar o objeto da pesquisa por meio da lente científica.
Eis que me deparo com algo, que ouso dizer que nem a própria academia tem ferramentas suficientes para lidar: a experimentação do objeto da tese.
Não aprendemos isso nas aulas sobre o uso da lente científica.
A academia se demonstra, então, falha quando diante de um fato novo e não previsto pelos já doutores: o objeto científico que passa a ser sentido na pele. Aquele que é possível de se respirar, olhar e sentir.


Diante dessa confrontação proposta pelo acaso(?), me questiono, então: seria o meu objeto de tese, científico ou poético?

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Ausência de mim

Tem uma pergunta que habita e ecoa em mim:
- Qual a origem dos meus medos, tão absolutamente sufocantes?
Do passado em forma de infância que foi de mim roubada por uma memória astuciosa, mas que marcou a minha alma?
Da real falta de competência?
Da certeza de que não mereço o que tenho?
Da intuição sobre o real sombrio que está por vir?
Da ausência de mim?

Quanto mais esta pergunta ecoa, mais se faz certeza a necessidade que eu tenho de respondê-la, para saber de fato quem eu sou.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Ensolarou

Janeiro ensolarou para o nosso amor.
Ensolarou pra gente passar e juntos iniciar uma nova caminhada.
Ensolarou e iluminou o que estava por vir.
Muito estava por vir, e, ainda virá.
Ensolarou e habitou em você, que vem todo dia, um pouquinho, transbordar em mim.


Nosso amor, Janeiro, ensolarou.

O vô

O vô.
O vô "só tinha até a quarta série", mas era mais inteligente do que muita gente que "tem doutorado".
O vô era teimoso demais, tão teimoso que a gente ria.
O vô fazia a melhor caipirinha do mundo.
O vô nos contava história quando a gente era pequena. Eu gostava da "festa no céu".
O vô gostava de circo. E fazia a brincadeira de circo, cantando uma musiquinha linda que ele inventou.
O vô fazia mágica com um dedo de plástico. Isso me fazia tão feliz.
O vô lia meus artigos, pedia pra imprimir da internet e vinha discutir o que achava.
O vô escrevia cartão no aniversário e terminava: "são os votos do seu avô". Eu amava isso.
O vô olhava pra mim e dizia: "- Cadê o Ray?". E eu dizia: "- Tá vindo, vô!", rindo de canto.
O vô gostava de branco. E ficava lindo de branco.
O vô tinha um apelido doce dado pela vovó, Katito. Katito que significa pedacinho do céu.
O vô era o melhor vô.
Ah vô... tanta coisa.
Você será pra sempre nosso pedacinho do céu.

Te amo.

Descansa em paz.