terça-feira, 17 de abril de 2018
Em um relacionamento sério com o Pomodoro
Como disse a Fê, taurininha “-
Vocês nasceram um pro outro”. Foi assim que começou nosso relacionamento. Eu estava
decidida que nada seria mais como antes. Que eu não ia mais me permitir
continuar com aquele comportamento. Eu precisava reaver minha dignidade. Eu era
uma pessoa com acúmulo na casa 6 que não tinha método. E eu precisa de alguém que me salvasse.
Então ele chegou, de mansinho. Primeiro veio quase que como uma tentação. Eu
entrei na sala de um colega e lá estava ele, coradinho, discreto, mas com
uma grandiosa presença. Perguntei sobre ele e esse colega falou alguns minutos
de como ele tinha mudado a vida dele. Sai da sala intrigada. Fiquei pensando em como minha vida
estava bagunçada. Eu não conseguia mais terminar nada que eu começava. Por
desânimo, ou, na maior parte das vezes, por pura procrastinação. Essa palavra feia
e tão temida. Foi quando eu percebi pela primeira vez que eu precisava dele. Chegou a
sexta-feira e eu tinha perdido um prazo. Um prazo que, embora acordado entre
uma colega de trabalho e eu e que, portanto, não geraria consequências mais
sérias, me fez novamente pensar que eu precisava reaver minha dignidade. Era meu
orgulho de ter acúmulo na casa 6 que estava em jogo. Foi então que eu
recorri a Fê, a mesma taurina já mencionada no início do texto, que já conhecia o cara. E ela, como
sempre, precisou de muito pouco para me convencer: três frases motivacionais e
um link de um vídeo preciosamente escolhido no youtube. E lá estava eu,
completamente apaixonada. Apaixonada por ele, pelo tal do Pomodoro. Um tomatinho
fascinante. E nem estou falando do Tomás (que merece muitas páginas só pra ele)
e é tão ou mais apaixonante. Como pode um tomate mudar a vida da gente? Além da
Tai, a melhor roommate ever, ninguém sabe responder. A verdade é que eu não estou
falando de um tomate qualquer. Estou falando de um tomate com método. Um método
genial. Ele era
tudo que eu precisava. E agora eu ando
sendo zuada por causa
dele. Porque eu passei a pensar em pomodoris. Pomodoro é a técnica. Você trabalha em intervalos de 25 minutos,
parando 5 minutos a cada período de 25 minutos trabalhado. Esse intervalo de
trabalho consiste em 1 pomodori, quando 4 ciclos de trabalho são completos, ou seja, 4 pomodoris são
percorridos, temos então um Pomodoro, e de quebra ganhamos um descanso de 15 a 30 minutos. O fato
é que o cara que descobriu esses intervalos é realmente um gênio. Eu posso
dizer que, inexplicavelmente, eu nunca havia sido tão produtiva na vida. Tem
horas que me dá até vontade de pular um intervalo – o que é terminantemente contra as regras do Pomodoro. Mas como eu gosto
de um método muito bem aplicadinho, eu resisto firme e faço os intervalos direitinho. E eles
são uma recompensa. E é aí que está o tchan da coisa. Você trabalha e sabe que vai ser
recompensado. Isso não acontece quase nunca em situação alguma. Portanto, além
de parceiro de trabalho, o Pomodoro te oferece colo, ele te dá o que mais ninguém te dá. O Pomodoro mudou minha vida.
Eu cheguei a pensar em comprar de fato, o timer em formato de
tomatinho, pra calcular meu tempo ao vivo e a cores e ouvir o tic
tac ecoando além,
claro, da chance de ficar pertinho dele todo o tempo. Mas tive vergonha. Porque como eu
disse, eu ando sendo zuada. Minhas amigas do trabalho jogam piadinha dizendo que tudo
pra mim agora é em 25 minutos. De fato, eu tenho que concordar com elas. Eu fiz
uma tabela de quantos pomodoris eu vou precisar para ler um determinado livro. E pior, essa
tabela foi feita com base em estatísticas que eu mesmo calculo, que envolvem
coisas como contar quantas páginas eu leio por pomodori, várias vezes, até
chegar a uma média. E assim, com base na minha média e
em quantas páginas tem o livro, eu saberei quanto tempo de trabalho eu
preciso. Foi com base nisso que eu cheguei a me questionar se estou doente. Mas
acho que é só paixão mesmo. E tomara que seja. Quando a gente está
apaixonado é assim mesmo, tudo é maravilhosamente lindo. Não há defeitos.
E eu posso jurar que eu só vejo flores nesse tomatinho mágico. Eu até voltei a acreditar na minha
tese. O Pomodoro me trouxe pra vida novamente. Eu queria dizer no Facenuggets que eu estou
em um relacionamento sério com ele. Tirava o Ray, entrava o Pomodoro. E deixa o povo
falar. Imagina, nós dois, numa ilha deserta, fazendo estatísticas sobre quantas
páginas eu escrevo por tema em pomodoris. Quantos gráficos eu faço por pomodoris. Quantas páginas
em inglês eu leio em pomodoris. Eu fiquei toda arrepiada só de pensar. A
vida em pomodoris. Se Pomodoro fosse uma religião eu estaria, nesse momento, indo na
casa das pessoas pra dizer: - Bom dia, você tem um minuto pra ouvir sobre o Pomodoro? Aposto que
encontraríamos a salvação. Eu quero conhecer as pessoas que assim como eu,
acreditam que um tomate pode salvar nossas vidas, e seremos, então, melhores
amigos. Enquanto isso não acontece, já decidi que sairei de tomate no carnaval,
em homenagem a esse momento. E que momento.
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