segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Ser barbeira é uma questão de ser

Sou barbeira. Já dizia o vô: “- Eita, Bianca, tu é barbeira” – fazendo força pra arrastar um dos vasos de cimento da calçada da casa dele, tentando dar uma forcinha pra eu tirar o carro. O vô estava certo. Sempre fui barbeira, desde a primeira prova prática da autoescola, que durou cerca de 90 segundos. O tempo suficiente para que eu virasse todo o volante e queimasse a linha da vaga fazendo a baliza – que por sinal nunca aprendi a fazer. Eu achando que estava abafando e a instrutora do Detran saindo do carro e dizendo: “- Poxa linda, você queimou a faixa”, e, eu incrédula (porque não tenho nenhuma noção de espaço mesmo, e olha que sou Geógrafa): “- Mentira!”, Ai ela, com a maior paciência do mundo: “-  Olha aqui linda!”, apontando pra faixa, queimadassa. Nossa senhora, como dirijo mal. Tentei a prova de novo – porque sou teimosa, e, não sei como, mas passei. Na verdade eu sei, eu implorei: “- moço, não me tira o ponto das curvas que entrei com pé na embreagem pelo amor de Deus”. Eram 3 curvas no trajeto. Eu entrei com o carro roncando nas 3. E já tinha perdido os 3 pontos da seta final, quando a gente estaciona o carro. Se perdesse mais 1 ponto estava eliminada. Implorei tanto que ele, com pena, me passou. Foi trapaça minha. E hoje eu vejo que eu tinha que ter parado de insistir naquela prova. Sou muito ruim de roda. Eu sou dessas que sobe canteiro de estacionamento de shopping pra fazer a curva. E só se dá conta do que fez quando o carro ta quicando para descer do canteiro. É cômico. Eu já fiz o Ray “matar o retrovisor do carona no peito” quando um caminhão dividiu a curva comigo. Tenho problema com curva. Com curva, com placa, com carro, com freio, com baliza. Não sei fazer baliza. E passo vergonha mesmo. Da última vez fui procurar um remédio numa farmácia porque meu paizinho estava doente, e parei o carro na lá puta que pariu, porque as vagas perto da farmácia eram todas de fazer baliza. Era até melhor ter ido a pé, de tanto que eu andei. Mas hoje eu escrevo sobre o meu probleminha (está mais pra problemão) com direção, porque ontem eu realmente pensei em parar de dirigir. Para variar, fiz uma besteira. Eu ignorei uma placa de “meia pista interditada”. Mas eu ignorei com vontade. Na verdade sem vontade, porque não percebi. Mas foi digno de pena. O Ray tentou me avisar, mas nem assim. Quando eu vi tava dando um freiadão, na cara do buraco. Tive ódio de mim e do Ray, que deu um grito: - Bia olha o buraco!”. Ele não precisava ter gritado. Mas eu não precisava estar dirigindo. No entanto, como sou encardida, para citar uma das minhas expressões preferidas aprendidas em 2017, desci do carro cheia de razão e disse para ele: “- Dirige você!”. Era um favor que eu estava fazendo a nós dois. Eu sempre tirei sarro disso. Dessa minha condição de deficiência automobilística. Mas eu estou começando a ficar preocupada, de verdade. Tenho receio que uma dessas barbeiragens tome uma proporção maior do que deveria. E sinto que talvez eu desista. No fundo, eu só queria entender o porquê de eu dirigir tão mal. Eu até queria ser pilota, dessas mulheres que sentam no carro cheias de atitude. Mas tô mais pra cobradora. Ajudo a catar as moedinhas para pagar os pedágios como ninguém. E no fundo, se meu dinheiro desse, eu ia de Uber mesmo. Mas como ele não dá, eu preciso fazer essa reflexão e quem sabe finalmente desistir da direção.

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